Depois dos incidentes registados no Benfica x Porto de há duas semanas, parece-me que se impõe uma pequena reflexão em forma de alerta em relação a esta espécie que se continua a multiplicar de forma rápida, mas, felizmente, assexuada. Falo, pois claro, do Super-Escabroso.
Mal trajado, pouco instruído com a dentição incompleta e um odor condizente: assim está traçado o protótipo de um Super-Escabroso. As suas indumentárias não variam muito. Nem de indivíduo para indivíduo, nem, muito menos, de dia para dia.
Para baixo, meia Sport por cima da calça de fato-treino de lycra, para que possamos observar em pormenor os detalhes reluzentes das suas sapatilhas com molas, suspensão reforçada e, em casos extremos de rebeldia, atacadores desatados.
Da cintura para cima, sem esquecer o sempre presente bling bling - que é como quem diz uma volta em ouro falso com uma cruz na ponta -, vestem um colete SD ou Ultras, ou, em alternativa, uma camisola do Porto da época 98\99 com o patrocínio da latrinária marca Revigres, à frente, e o número 69 acompanhado do nome 'Fábio, o destroca naifas', atrás. Em dias de festa, há alguns que usam a parte de cima do fato-treino. Por baixo, não podia faltar uma camisola interior suada, do Pikachu ou do Neco. Porque estes energúmenos até têm um lado mais querido.
Pormenores como o brinco de plástico, o boné ou o cabelo empastado em gel, ficam para outro dia.
O típico Super-Escabroso é, como não podia deixar de ser, adepto da agremiação nortenha que é o foculporto. Tem de ter, entre outros atributos, a elegância de um Manuel Serrão, o dealer de um Miguel Sousa Tavares e o desportivismo de um activista da ETA com esclerose múltipla. Todas estas caractrísticas convergem para um ódio exarcebado em relação ao melhor clube do mundo, que é, no fundo, a sua razão de sobreviver.
A sua lábia é conhecida e as suas manhas mais velhas que aquele puto - porventura, já falecido - que ainda hoje aparece nas embalagens de Kinder barrinhas. Engenho também não lhes falta. Uns especializam-se em ligações directas, outros, em furtos menores. Os mais retardados acabam, geralmente, a trabalhar no McDonald's.
O seu quotidiano é como o seu léxico: pouco diversificado. De manhã, "roubar betos"; à hora de almoço, espancar a progenitora, ou, caso esta tenha saído para se prostituir, pontapear o irmão mais novo; ao início da tarde, coçar a zona pudibunda enquanto escarram para o chão; ao fim da tarde, "roubar betos"; à noite, "roubar betos"; às primeiras terças-feiras de cada mês, tomar banho; isto tudo com umas flatuências pelo meio. Qualquer acção que não conste da minha enumeração, só pode ser um mero lapso.
Ontem, à saída da Luz, os repórteres deste blog tiveram oportunidade de captar algumas palavras de um dos mais eruditos Super-Cabrões, que passo a transcrever: "A gente somos os maiores e fomos superiores a vós. Como eu já tinha dito em antes do jogo - sim, porque eu posso só ter três dentes e uma lasca mas tenho boa memória - íamos para jogar à bola e jogamos. Prontos, vós conseguisteis o empate no fim, agora é alevantar a cabeça e pensar já no próximo jogo contra o Setúbál.". A discursante foi uma senhora de meia idade, que para além de ter de nos pagar o microfone que ficou encharcado de perdigotos, deveria ser igualmente condenada a depilar as suas axilas.
Termino por aqui, uma vez que começo a recear que seja exercido qualquer tipo de represália física contra mim ou contra a minha família, não vá algum deles ter um amigo que sabe ler.